E felizmente porque, segundo dizem, fico com um aspecto um bocado assustador quando a tal da bicha decide abandonar a embalagem e partir para lugar incerto...
Nunca percebi para onde vai nem com que intuito, mas se me disessem que saía do seu posto para participar numa qualquer greve dos sentidos, contra a inquestionável, e por vezes injusta, onipotência da massa encefálica, eu acreditava e mais ainda... subscrevia.
Hoje em dia tudo e todos se manifestam, e bem... contra qualquer coisa. Porque não também, a alma e os sentidos?
Quem promoveu o cérebro a cabecilha principal deste imenso amontoado de células, esqueceu-se do pormenor que também ele pode precisar de espairecer.
Quando a pessoa está preocupada... quem ajuda? O cérebro... (então bora lá ter uma ideia luminosa!)
Quando os sentidos estão em apuros... quem soluciona? O cérebro... (vá lá tira daí a mãozinha que te estás a queimar!)
Quando os orgãos estão com problemas... quem resolve? O cérebro... (agora está na hora de descansar, toca a desmaiar!).
Então e o cérebro?! Não tem direito aos seus dias não?! Quem é que auxilia e apoia o coitado do cérebro?! (Sim tá certo, quando o cérebro está em risco a malta entra em coma... mas e se for um problemazinho mais soft... assim uma coisita moderna, como uma indisposição ou um esgotamento menor?)
Eu acho que descobri a resposta... quando isso acontece, a alma tira férias!
No meu caso específico, a aderência ás greve nunca atinge os 100%. Isto porque embora todos os outros sentidos pareçam cessar funções, a audição mantém-se bem funcional... a música parece entranhar-se cá dentro como nunca, nestes momentos de evasão psicológica. E se não houver música propriamente dita, tudo, desde o som da chuva a cair ao barulho de um corta-relvas, servem para preencher o lugar de música de fundo.
A mente entra em modo "freeze"; o tema do ultimo raciocínio fica em grande plano e toda a acção passa a acontecer em "slow motion"... são esmiuçados todos os infímos pormenores e a unica coisa que mantém tudo isto a funcionar, parece ser o ritmo da música que faz eco no vazio de quem se encontra desalmado.